HISTÓRIAS DE UM ILHEENSE
por Tomé Pacheco
NA FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL E PENITENCIÁRIA FEMININA –II

Tomé Pacheco
Fui escalado para fazer uma semifinal da 3ª divisão na cidade de Pirajú entre as equipes do Pirajuense e José Bonifacio. Como era pequena, quando chegamos (os três árbitros) com nossas malas “tamanho família”, a cidade toda se mobilizou, pois era fácil sermos identificados.
Quatros senhores vieram conversar comigo. Aquela conversa mole, sabe? nas entrelinhas, mas para um bom entendedor, era percebível que eles estavam querendo me comprar. Fiz de conta que eu não estava entendendo e dei corda. Quando eles já haviam acabado os argumentos eu entrei: “Olha senhores, se eu estou aqui para apitar um jogo dessa importância é porque eu tenho méritos. Portanto vai ganhar quem fizer mais gol, quem jogar melhor”. Os quatros ficaram sem graça e se mandaram.
A partida foi realizada num sábado à noite em razão do jogo de final de campeonato paulista que seria no dia seguinte, domingo, em Campinas (entre Guarani e o Corinthians em que o time corintiano, para meu desgosto, venceu o campinense pelo escore de 1 a 0, gol do atacante Viola de carrinho).
Bom, na hora da partida o estádio estava lotado e o bicho pegando. Quando vi o time do José Bonifacio, pensei: “Hoje, não tem para o Pirajuense”. Naquele jogavam para se ter uma ideia, o baixinho bom de bola, Osni, que jogou no Bahia; Wilson Tadeu (que havia jogado no Grêmio e no São Paulo) e outros rodados, mesclado com alguns jogadores jovens, mas bons de bola. Enfim era uma equipe bem mais montada do que o do adversário e organizada com o objetivo de ser campeã da cidade. Pois bem, aos 35 minutos o José Bonifacio faz 1 a 0.
No intervalo cheguei para os meus auxiliares e disse: “Não vamos para o vestiário porque temos que passar por baixo da arquibancada e vocês imaginem o que pode acontecer”. Ficamos no meio do campo a tomar água, quando de repente aparece o presidente do Pirajuense me xingando e falando: “Seu merda, você não pegou dinheiro nosso, mas pegou do José Bonifacio não é isso seu ladrão?”. Eu respondi: “Seu presidente, eu peguei deles porque eles têm mais dinheiro do que vocês. Olha só o time deles e a porcaria do seu time. É dessa maneira que seu time quer ser campeão? Assim fica difícil. Não monta time e quer ganhar jogo comprando arbitragem!”. O homem pirou e partiu que nem uma fera para cima de mim. Como eu sabia que o policiamento estava reforçado, com policiais vindos de outras cidades, eu fiquei na minha. E como eu sabia também que policial quando faz “hora-extra” fica nervoso, eu só sei que seguram o homem pelas calças, pelo pescoço e levantaram o danado. Para provocar ainda mais eu gritei: “Segura esta fera senão ele me mata”.
No final deu José Bonifácio 1, Pirajuense 0. Para sair do estádio foi um dilema: ficamos sob a proteção policial esperando que a torcida fosse embora. Depois fomos escoltados para o batalhão e ficamos a espera de um ônibus, que só veio aparecer às 3 horas da manhã, mesmo assim ainda fomos ameaçados por torcedores que revoltados, passavam soltando rojões e soltando palavrões. Finalmente entramos em uma viatura e seguimos até o trevo da cidade.
Outra vez fui apitar um jogo da segunda divisão entre o José Bonifacio (o mesmo do fuzuê anterior) e o São Simão. O bicho também pegou. No intervalo íamos (eu e os dois bandeiras) nos dirigindo para o vestiário, quando um cara gordo subiu no muro que era baixo, e começou a me esculhambar. Como tinha um rodo de puxar água perto, passei a mão neste rodo e quebrei a cabeça do sujeito. No final da partida, a porta do vestiário aberta, o tal gordo adentra e com um cacete de borracha ameaçou bater em mim. Saquei que na bolsa aberta de meu auxiliar(um dos bandeiras), que era policial, tinha uma arma, então num salto preciso peguei e apontei em direção ao gordo e falei bem alto: “Seu gordo filho da puta, larga esta porra que você tem na mão fora, se não estouro seus miolos agora”. Esse cara saiu gritando feito um louco e dizendo “Cuidado, cuidado, o juiz está armado”. Daí o tempo fechou. Só não virou um tumulto de grandes magnitudes porque o policiamento chegou na hora e o meu bandeira, o dito, que era sargento, interferiu, e juntos conseguiram sanar a situação.
Logo após o presidente do José Bonifacio apareceu para fazer o pagamento pela arbitragem. Virou para mim e disse: “Vou descontar 3,00 reais de sua taxa para comprar outro rodo”. Eu respondi: “Três não, pega cinco, e o troco o senhor fica para ajudar a porcaria de seu time e para dar educação a sua torcida”. O homem pirou, e me xingou todo. Eu então retruquei: “O senhor está falando esse monte de bobagens porque está aqui. Vá à Federação na sexta e me encare”. Nesse momento apareceu um repórter de campo e virou-se para mim “Seu Tomé, eu quero o seu RG, para publicar para todo o interior paulista que o senhor nunca mais apitará por aqui”. Então pensei: “Já que estou na guerra nada mais me resta”. Virei para o sacana e dei-lhe uma tapona no pé do ouvido. Eu só sei que o seu microfone foi parar longe. Em seguida falei para os policiais: “Por favor, não deixa mais ninguém adentrar no nosso vestiário. Chega de lambança!”.
Outra vez fui bandeirar em Salto, no campeonato da segunda divisão. Laércio era o juiz. Houve um choque entre o lateral direito de um time e o ponta esquerda do outro perto de onde eu estava com a bandeira. O ponta se levantou e gritou comigo “Você não viu que foi falta, seu merda! Porque você não apitou?”. Eu de imediato: “Animal, você está me vendo com algum apito?”. Rapaz, o cara veio pra cima de mim a encostar o nariz dele no meu e… Foi o bastante para dar-lhe um bico no joelho, que o danado esbagaçou-se no chão. O Laércio (juiz) veio saber o que havia acontecido. Eu disse pra ele: “Não foi nada não. Esse jogador escorregou e está pedindo falta. Pode tocar o jogo. É pura manha!”. Chegando ao vestiário contei a verdade para o Laércio.
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